A carga da deusa

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Ouça as palavras da grande mãe, que, em tempos idos, era chamada de Ártemis, Dione, Melusina, Afrodite, Ceridwen, Diana, Arionrhod, Brígida e por muitos outros nomes:

“Quando necessitar de alguma coisa, uma vez no mês, e é melhor que seja quando a lua estiver cheia, deverá reunir-se em algum local secreto e adorar o meu espírito, que é a rainha de todos os sábios. Você estará livre da escravidão e, como um sinal de sua liberdade, apresentar-se-á nu em seus ritos. Cante, festeje, dance, faça música e amor, todos em minha presença, pois meu é o êxtase do espírito e minha também é a alegria sobre a terra. Pois minha lei é a do amor para todos os seres. Meu é o segredo que abre a porta da juventude e minha é a taça do vinho da vida, que é o caldeirão de Ceridwen, que é o gral sagrado da imortalidade. Eu concedo a sabedoria do espírito eterno e, além da morte, dou a paz e a liberdade e o reencontro com aqueles que se foram antes. Nem tampouco exijo algum tipo de sacrifício, pois saiba, eu sou a mãe de todas as coisas e meu amor é derramado sobre a terra”.

Atente para as palavras da deusa estelar, o pó de cujos pés abrigam-se o sol, a lua, as estrelas, os anjos, e cujo corpo envolve o universo:
“Eu, que sou a beleza da terra verde e da lua branca entre as estrelas e os mistérios da água, invoco seu espírito para que desperte e venha até a mim. Pois eu sou o espírito da natureza que dá vida ao universo. De mim, todas as coisas vêm e para mim todas devem retornar. Que a adoração a mim esteja no coração que rejubila, pois, saiba, todos os atos de amor e prazer são meus rituais. Que haja beleza e força, poder e compaixão, honra e humildade, júbilo e reverência, dentro de você. E você, que busca conhecer-me, saiba que a sua procura e ânsia serão em vão, a menos que você conheça o mistério: pois se aquilo que busca não se encontrar dentro de você, nunca o achará fora de si. Saiba, pois, eu estou com você desde o início dos tempos, e eu sou aquela que é alcançada ao fim do desejo”.

Doreen Valiente, 1957

A dança da vida

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Recordo hoje... a primeira vez que gerei... Eu era Gaia, o Grande Espírito, vinda através do caos para gerar o princípio. Após meditar no meu vazio, resolvi te gerar... Nasceste Urano, o céu, e celebramos o Mistério da Iniciação.

Então, eu quis te tocar... quis a vida e, em minha capacidade fecunda, me fiz a Terra... Depois, te gerei a vida sobre mim.
E fomos, desde então, a dualidade sagrada... A terra e o mato, o sol e a lua, a fêmea e o macho.

Durante séculos, geramos as faces de nossas existência. Cultivamos e abençoamos cada dualidade e sua união sagrada, perpetuamos a trindade divina.

Fomos Isis, Osíris e Horus... Maya, Zeus e Hermes... Bona Dea, Júpiter e Mercúrio... E também fomos nossos próprios filhos, Perséfone, Apolo, Atenas, Lugh...

O tempo passou e, também nele, nós estávamos... Mesmo quando fomos negados por nossa criação, permanecemos... Eu rainha dos céus, portadora do Cálice Sagrado, e tu meu filho e semeador de minha terra...

Dentro de teus templos, fui a Abelha fecunda de tua iniciação. Sempre em busca do equilíbrio, nos fazemos presentes em tudo que geramos, um à espera do outro, um buscando o outro, um nutrindo o outro. Completando o mistério e o rito.

Hoje, somos o ciclo da vida no planeta... Tu, meu filho, sempre renasces com o inverno na eterna dança circular da vida, às vezes, alguém te reconhece e te nomeia... Teus nomes já foram muitos: Krishna, Buda, Mitra, Dionísio Adonis, todos deuses solares do Solstício, todos gerados por minhas faces virginais.

Sempre nascerás de mim, serás a criança da Promessa Divina e crescerás correndo por minha face terra espalhando suas sementes; serei a donzela de seu destino. Iremos nos unir na primavera, e nossos frutos florescerão pelo planeta.

Nosso amor sustentará eternamente o mundo... Quando chegar a hora, irás te entregar em grãos aos nossos filhos e irás te deixar cair em meus braços, pois sentirás o fio de minha lamina a te ceifar. Teu sacrifício será para que todos se nutram.

Farei de teu túmulo meu corpo, assim sentirás a terra se transformando em útero e adormecerás novamente em meu ventre. De tua face, Senhor da Morte, renascerás outra e outra vez, a cada inverno! Pois este é o grande mistério que rege a vida, a eterna dança circular do amor.

Luciana Machado