Deuses de Tabela – Um Erro comum…


Desde sempre existe uma onda que parece vigorar nos estudos inciais que é a ideia de “Deuses tabelados”, acredito que está mais do que na hora de nós como orientadores mudarmos esse conceito auxiliando os neófitos a identificarem a dividade além de uma ou outra qualidade. Falar sobre esse tema é complicado e um tanto quanto polemico, pois quando digo Deuses tabelados eu falo sobre aquela fórmula com qual estamos acostumados a nos orientar, tal como acontece com as ervas, cores, pedras e incensos, conhecendo uma ou duas características desta ou aquela divindade.

Um dos sérios problemas nessa armadilha é que alguns sacerdotes não auxiliam estes neófitos a viver esse contato, pois eles também caíram neste ciclo vicioso e sendo assim continuam propagando essa metodologia e forma de vivenciar o sagrado.

Outro empecilho que barra os neófitos a ter esse contato é a falta de informação sobre a busca da conexão com a divindade, vivenciar outras formas e faces.

Este erro comum é a velha caixinha que te prende em conceitos velhos que precisam ser quebrados, um pagão que vivência a Deusa na forma de tabelinha acessa apenas uma pequena parcela da vastidão que é a divindade em si, perde-se a essência de se conhecer através da divindade, pois somos parte deles. Perde-se a totalidade da própria Terra, ou pior, do nosso Universo todo.
Viver os Deuses de tabela é quase como viver com antolhos que façam com que você enxergue apenas o que está a sua frente, ou seja, ver a divindade de uma forma mais limitada do que já vista e por consequência não compreender a imanência da Deusa.

Nossa obrigação como Orientadores é auxiliar os neófitos que nos procuram a vivenciar o contato direto com a divindade e encorajar os solitários a sentir a divindade como um todo. No meu próximo texto falarei sobre o contato direto com a divindade e sobre como é conviver dia após dia com a imanência.

Kalevi Silvanus
Templo da Deusa 

As faces do Deus Cornífero

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O Deus realmente é deixado de lado muitas vezes nos cultos pagãos, como se a energia da Deusa pedisse essa dedicação exclusiva. Isto é verdade em parte, porque não é possível cultuar o Deus adequadamente enquanto não mergulharmos na Deusa e nos despirmos do Deus do patriarcado.
Quando no curso de nosso caminho – e isso demora até anos – está na hora do Deus voltar, a própria Deusa nos mostra seu Filho, Consorte, Defensor, Ancião.

Falando rapidamente: o Deus Jovem é, antes de tudo, a Criança da promessa, a semente do sol no meio da escuridão. Depois, é o Garoto do Pólen, o fertilizador em sua face mais juvenil, e traz a energia da alegria de viver, o poder de se maravilhar ante as descobertas da vida, é o experimentador, a face mais sorridente do sol matinal.

Dai surge o Deus Azul do Amor, o rapaz que cresceu e chegou na adolescência e desabrocha em beleza e masculinidade, é o Jovem Deus da Primavera, percorre as Florestas e acorda a natureza.
Ele é o Apaixonado, aquele que primeiro busca a Deusa como a Donzela e propicia o encontro… Ele é o Deus da sedução ainda inocente, que não conhece os mistérios da Senhora ainda… ele é toda possibilidade.

Depois ele é o Galhudo e o Green Man… O Deus é o macho na sua plenitude, O Senhor dos Chifres que desbancou o gamo-rei anterior, ele é força e poder, músculos e vitalidade, ele cheira a sexo e promessas. Ele é o Grande Amante, atraído irresistivelmente pela Senhora ele é o Provedor, o Sustentador, o Senhor Defensor.

Ele é o Senhor das Coisas Selvagens, o Deus da Dança da Vida, O Falo Ereto, O Fertilizador.
Como Green Man ele também é o Senhor da Terra e sua abundância, o parceiro da Senhora dos Grãos. O Senhor dos Brotos, aquele que cuida dos frutos e os distribui pela terra.

Mas o Deus é também O Trapaceiro, o Senhor da Embriaguez, o Desafiador e o Ancião da Justiça. Ele nos faz seguir um caminho e nos perdemos pra conhecer o pânico de Pan… ele nos deixa loucos como Dioniso ou perdidos nos devaneios de Netuno… ele é o Desafiador, seja nos duelos, seja na guerra, na luta pela sobrevivência… ele é caprichoso e insidioso, ele nos engana, nos deixa desesperados e sorri – porque esse é seu papel; estimular o novo, mostrar que nosso desespero é inútil e só nos escraviza…

Como a Deusa, Ele está na fome e no fim da fome, na vida e na doença terminal, na luz e na sombra, no que é bom para você e no que é mau… A Deusa nunca está só, ela tem sua contraparte masculina e, no entanto, Ele só existe por amor a Ela… alias, todos nós somos fruto dessa dança de amor.
O Deus é o Ancião sábio, o distribuidor da Justiça, seja a que se impõe com sabedoria ou raios… Ele conhece os segredos dos oráculos, mas sabe que são Dela… ele é o repositório do conhecimento, mas a sabedoria é Dela… ele lê os sinais da natureza, mas sabe que quem os escreve é Ela. E o velho sábio vai murchando e se transforma no Senhor da Morte… ele que é o Senhor de Dois Mundos, pois no ventre dela, de volta, ele vive sua morte e a própria ressurreição. Mistério e segredo, morte e retorno, Ele é o que atravessa os portais dos quais Ela é a Senhora.

Ele, o Caçador, que também faz o papel de Ceifador… Ele que ronda o leito dos moribundos e dança a dança da morte. O Senhor dos esqueletos.
Ele que na dança da morte retoma o brilho do sol e sua face negra se ilumina, em uma explosão impossível de conter, e Lugh nasce outra vez…
Ele que é pai, filho, bebê iluminado, amante selvagem, sábio educador… ele, o Deus que se revela apenas pela Deusa.

Mavesper Cy Ceridwen

Sou bruxa e sacerdotisa wiccaniana há mais de 22 anos, militante em defesa do Estado laico e direitos humanos. Terapeuta de cristais, taróloga, teáloga, terapeuta xamânica. Amo cães,especialmente poodles e pomeranians. Viciadíssima em seriados e , me aventurando na gastronomia.

Templo da Deusa

Auto-iniciação: um passo à frente das polêmicas

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Há mais de vinte anos atrás, estava eu no começo do Caminho da Deusa e estudava sobre a questão da validade ou não da auto-iniciação, tema que sempre gerou e ainda gera conflitos enormes no mundo todo. O que vemos nas recentes discussões da internet do Brasil, poderemos encontrar reproduzido em qualquer parte do mundo: radicais de ambos os lados, muita gente que faz disso motivo de discriminação e das famosas witch wars.

Quando lia sobre o tema um dia no Witchvox ( www.witchvox.com) me deparei com um texto de Ellen Cannon Reed, em que ela dizia já na década de 90 que era hora de parar com essas discussões discriminatórias e que a obrigação dos iniciados de covens e tradições era ORIENTAR e AJUDAR os que caminhavam na estrada da auto-iniciação, discutindo-se a sério, pois, PARÂMETROS PARA A AUTO-INICIAÇÃO.

Esse texto da Ellen me fez pensar durante alguns anos, e eu nunca vi se essa discussão teve prosseguimento no Witchvox. Mas aquilo ficou na minha cabeça.
Em 2001, quando eu já era além de auto-iniciada, líder de um coven há alguns anos, e depois fui iniciada em minha primeira tradição formal, escrevi um texto simples na lista de discussão do “Templo da Deusa” elencando o que se poderia chamar “Parâmetros para Auto-Iniciação”.

Não consegui encontrar meu texto originário, embora seja facílimo achá-lo ligeiramente modificado em meia dúzia de sites, e até livros, que o copiaram descaradamente. Mas isso não vem ao caso, o que importa é que hoje resolvi reescrevê-lo e talvez, com maior experiência e vivência, hoje eu produza um texto mais útil a todos.

Partindo-se do pressuposto que o ritual de iniciação em si não confere poderes ou transformações que a Deusa e o Deus já não tenham posto à disposição de uma determinada pessoa, e sabendo-se que a cerimônia iniciática é um rito de passagem, um marco de transformação, o que importa é saber COMO deve ser alguém para que legitimamente possa se arvorar em iniciado.

Essa análise nos covens tradicionais é feita pelo Iniciador. Quando o caminhante é solitário, tem que ser feita por ele mesmo.
Afinal, que diabos de diferença há entre o modo de ser de um iniciado em wicca e um não iniciado? Que saberes, que habilidades, que conhecimento se exige para avaliar se alguém pode legitimamente se iniciar em coven ou se auto-iniciar?
Vou elencar alguns pontos básicos de coisas que precisam ser aprendidas e sabidas, ou modificadas, para que alguém possa se iniciar, ou se auto-iniciar. Como vocês vão perceber, o conteúdo do aprendizado deve ser o mesmo.

PARÂMETROS PARA AVALIAÇÃO DE CANDIDATO À INICIAÇÃO
  1. CONHECIMENTO RACIONAL
    • O que é Wicca e Bruxaria e a diferença de outros caminhos mágicos e outras formas de neopaganismo.
    • Definição de Wicca e variações possíveis dentro da religião – conteúdo mínimo para caracterizar um prática como wiccaniana. Dogmas wiccanianos
    • História da Bruxaria
    • Mitologia dos diversos panteões pagãos
    • Conhecimento básico para magia natural: ervas, cores, pedras, sons, perfumes, incensos, velas e seu uso mágico.
    • Personalidades pagãs e sua contribuição para a bruxaria.
    • Conhecimento da fauna, flora e minerais de sua região. 
  2. TÉCNICAS MAGICAS
    • Estados alterados de consciência. Diversas formas de atingi-los.
    • Respiração, meditação.
    • Magia com os 4 elementos
    • Composição do Eu Mágico ( nome, templo astral, aliados etc)
    • Treinamento em Visão, transferência de consciência,  telepatia , sonhos lúcidos e outros fenômenos paranormais (cada uma dessas coisas deve ser compreendia para buscar seus próprios dons, ou seja, quais as modalidades em que você tem mais aptidão natural).
    • Mudança de forma (shapeshiting) e glamour.
    • Ataque e defesa mágica, criação de baterias, escudos, guardiões e seres magicamente criados.
    • Técnicas de cura, limpeza de ambientes, conhecimento da natureza em sua utilização mágica.
    • Horários e locais de poder, determinações mágicas.
    • Prática frequente de algum oráculo.
  3. RITUALÍSTICA
    • Conhecer toda a estrutura do círculo mágico e do ritual wiccaniano, bem como o papel dos Antigos e contatá-los.
    • Saber elaborar sabbats e esbats, com todas as características e compreender seu significado na terra em que você vive.
    • Conexão e trabalho com Deusas e Deuses e aliados mágicos.
    • Uso dos instrumentos e percepção de sua função simbólica.
    • Feitiços – tipos e variações possíveis.
  4. AUTO –CONHECIMENTO
    • Conhecer seu corpo e seu funcionamento de acordo com os ciclos da Lua e do Sol.
    • Percepção dos Elementos no corpo.
    • Pesquisa e conexão com ancestrais, compreendendo seu papel no mundo como herdeiro dos dons deles.
    • Profunda capacidade de auto-transformação, visando continuo equilíbrio e busca de liberdade, compreendendo sua estrutura psicológica, condicionamentos, e libertando-se de comportamentos impostos. Aquisição de capacidade de compreender todos os seus processos emocionais e harmonizar-se.
    • Compreensão que o processo de auto-conhecimento é a  base da formação do elo com os Deuses, porque conhecer a si mesmo é conhecer os Deuses, que são o Todo Universal.
  5. CONEXÃO, ÉTICA E COMPROMISSO
    • Aprender a escutar os Deuses e deixar que eles conduzam sua vida.
    • Desenvolver a compaixão pelo Todo, valorizando a diversidade sem nenhum tipo de preconceito, sendo capaz de servir em nome dos Deuses, da maneira como você compreender esse serviço, o que muda ao longo da vida sacerdotal.
    • Honrar todos os seus compromissos assumidos com os Deuses ou em nome e testemunho deles.
    • Seguir os lineamentos éticos básicos da Wicca, compreendendo como funciona o retorno tríplice.
    • Perceber como os Deuses usam você como instrumento Deles no mundo, agindo como um Desperto, ou seja, alguém, que compreende o que faz e porque faz em nome dos Antigos.
    • Resolver fazer seu COMPROMISSO INICIÁTICO (declarar aos Deuses que os ama e deseja entregar sua vida a eles para ser Seu instrumento consciente no mundo) SABENDO QUE ELE MUDARÁ SUA VIDA PARA SEMPRE, e que desse compromisso não se tira férias, folga, nem se desiste. Ele é uma vocação e uma escolha de vida.
Bom com toda essa lista de afazeres e aprendizado, além da parte imensamente difícil que é o item da autotransformação, dá para perceber que o que eu considero um auto-iniciado de verdade está muito longe das pessoas que fazem um ritual de meia hora achado num site, ou se “iniciam” às centenas em encontros de anime ou rpg. Esses não são auto–iniciados, são auto-iludidos. O mesmo se aplica às pessoas que romantizam e simplificam a Wicca como uma “religião livre, em que basta amar a todos” (o que os americanos chamam de “fluffy bunny wiccans”), a mesclam com o cristianismo ou outras coisas que querem continuar praticando e não sabem as bases da religião. Enfim a esses desejo, que um dia acordem, ao invés de auto-celebrarem a perpetuação de sua ignorância.
E quanto demora todo esse estudo e aprendizado sério para alguém poder se iniciar em coven ou se auto-iniciar?

Varia de pessoa para pessoa, mas sinceramente, cada mais me convenço que do estado de um leigo total para o da iminente iniciação a pessoa leva em média 3 anos. É um tempo bem razoável, embora alguns levem mais, poucos levem menos.

Iniciar-se mudará sua vida para sempre. Como diz minha irmã Naelyan Wyvern, enquanto você não faz seus votos sacerdotais, enquanto esta na dedicação, é como o tempo em que você esta subindo a escada de um tobogã. Você tem até o momento em que senta no tapetinho e dá o impulso para parar. Depois que você desce, não há mais como brecar o processo. Ou seja: se em algum momento de sua dedicação você achar que é demais para você, que não deseja uma vida de compromissos constantes, que quer algo mais light, então não se inicie. Seja pagão, curta seus rituais de vez em quando e seja feliz.

Mas se o sacerdócio é o desejo do seu coração, siga em frente, sabendo de tudo que o espera e lembrando que o rito iniciático é apenas o COMEÇO DE UM CAMINHO SEM VOLTA, onde a cada ano suas lições serão maiores e mais exigentes, mas as recompensas também. Uma vida de devoção, amor e Serviço à Deusa Tríplice e Seu Consorte.

Uma última observação: estes dias, escreveu na lista Templo da Deusa uma bruxa que diz que é praticante há diversos anos, mas nunca quis se auto-iniciar. Sobre isso, há uma observação a fazer: mesmo sendo feito da forma mais simples, sem pompa nenhuma, sem grandes cerimonias, o VOTO INICIÁTICO, OU SEJA, O MOMENTO EM QUE VOCÊ ENTREGA SUA VIDA AOS DEUSES EM SERVIÇO É ESSENCIAL. Essa é a principal finalidade do rito de iniciação: ser um marco do dia em que você fez, voluntariamente, esses votos. Os Deuses respeitam absolutamente nossa autonomia e nossa vontade, assim, SEM ESSES VOTOS ELES NÃO PODEM AGIR PLENAMENTE EM SUAS VIDAS E SEM ESSES VOTOS VOCÊ NÃO SERÁ UM INSTRUMENTO PLENO PARA ELES.

Esta é a real utilidade da auto-iniciação e da iniciação em covens: marcar o início da tomada dos votos sacerdotais na bruxaria, dar aos Deuses pleno domínio dos seus destinos, consentindo em que Eles o usem como instrumento desperto no mundo. Por tudo isso, recomendo a essa bruxa, que já há tantos anos vive no caminho que faça sim, sem medo e sem preconceito, sua auto-iniciação, porque ela levará seu sacerdócio a novos patamares.

É hora de parar de discutir bobagens e perfumaria. O que importa é: qual a qualidade do sacerdócio que estamos ofertando no altar dos Deuses?
A origem desse sacerdócio não pode ser fonte de discriminação, se ele for real.
Que os Antigos abençoem plenamente os que dançam juntos e os que dançam sós!

Mavesper Cy Ceridwen

Sou bruxa e sacerdotisa wiccaniana há mais de 22 anos, militante em defesa do Estado laico e direitos humanos. Terapeuta de cristais, taróloga, teáloga, terapeuta xamânica. Amo cães,especialmente poodles e pomeranians. Viciadíssima em seriados e , me aventurando na gastronomia.

Templo da Deusa

Sacerdócio Wiccaniano

Uma eterna polêmica entre os wiccanianos, seja no Brasil, seja em outras partes do mundo, é a velhíssima discussão sobre a validade ou não da auto-iniciação. Bons argumentos sobram tanto entre os defensores, como entre os críticos. A vivência na Wicca nos mostra que, muitas vezes, se encontra entre iniciados tradicionais pessoas que não se dedicam à Arte tanto quanto auto-iniciados, e entre auto-iniciados gente que só por muita ilusão se crê praticante da bruxaria.
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Creio, pois, que é hora de dar um passo a mais nessa discussão. A importância de iniciação tradicional é inegável, mas não há como fechar os olhos à realidade que, muito frequentemente, a auto-iniciação leva ao exercício de um sacerdócio impecável dos Deuses Antigos. O que é mais importante, então?

A resposta é justamente essa: o importante é o exercício do Sacerdócio Wiccaniano. Se chega a ele pela iniciação tradicional, participando de um coven, ok. Se chega a ele pelo árduo e difícil caminho de buscar as resposta diretamente da Deusa, pela auto-iniciação, ok também.
E o que é o Sacerdócio Wiccaniano?
Todos nós sabemos que só pertence realmente à Wicca quem se inicia ( seja em uma Tradição, seja pela auto-iniciação), ou seja, temos uma religião iniciática em que não há seguidores – todo wiccaniano é Sacerdote ou Sacerdotisa da Deusa Tríplice e seu Consorte.

Esse é um dos mais importantes diferenciais da Wicca em relação a caminhos mágicos não religiosos. O sacerdócio obrigatório implica que seja necessário à pessoa buscar em si, antes de pensar em trilhar este caminho, a veracidade de sua vocação sacerdotal. Costumo dizer que, na prática, nenhuma diferença vejo na vocação sacerdotal de um Wiccaniano da vocação sacerdotal para qualquer outra religião. Embora o modo de exercer nosso Sacerdócio da Terra não implique renúncias a prazeres, celibatos ou votos de pobreza ou abstinência, temos em comum com sacerdotes de outras religiões o seguinte: nossa alma anseia pelo contato íntimo e direto com a Divindade Criadora e nos oferecemos, voluntariamente, para realizar, em concreto, esse contato no mundo, em nossas vidas diárias.

Muitos livros tratam do período de preparação para a iniciação, muitos enfatizam o que deve um neófito aprender e conhecer no período de um ano e um dia mínimo para nela chegar. O que se deixa de comentar é o seguinte: o que faz uma bruxa DEPOIS da iniciação? Como é o exercício do Sacerdócio Wiccaniano?

Para responder essa pergunta, devemos compreender uma face da Deusa que é Aquela que Dá Poderes. Essa face da Deusa significa a Deusa agindo diretamente no mundo. Seja como a Curadora, seja como Consoladora, seja como Sábia, essa face da Deusa é muito conhecida das pessoas não tanto em tese, mas nas vivências diárias. É Ela quem nos concede nossos dons e quem, quando estamos em estreita comunhão com o Elemento Espírito, acende em nós a chama de partilhar esses dons. Creio que todos, mesmo os leigos, podem entender o que digo: quando você ouve uma bela música, quando lê um lindo poema ou vê um por do sol de intensa beleza, acende-se em seu coração um desejo de partilhar- você passa a querer dividir com os outros a beleza que descobriu.

Assim é o caminho Wiccaniano, essa mesma é a essência do sacerdócio: levar para a vida de outras pessoas a beleza que você descobriu ao perceber que a Vida é mágica, que Tudo é sagrado, que Ela é a Vida em si. A consciência de que tudo que existe em sua vida é sua responsabilidade e pode ser moldado por sua vontade. Descobrir que todas as respostas que você procura estão dentro de você mesmo. Obviamente isso não se faz por meio de pregações religiosas, nem por proselitismo. Isso se faz vivendo o dia a dia normal que todo Sacerdote ou Sacerdotisa Wiccaniano tem. Exercer o sacerdócio da Deusa Tríplice é levar encanto e magia a todos, e tornar as pessoas mais despertas , mais conscientes e mais livres, independentemente de que religião elas mesmas professem.

Ser um Sacerdote ou Sacerdotisa dos Antigos significa viver em alegria, celebrar a natureza e realizar seus dons no mundo. Seja nas pequenas coisas, como abençoar a pessoa que serviu a você um café no escritório ou nas coisas mais complexas, como engajar-se em movimentos ambientalistas, seja no usar seus dons para curar alguém ou um animal ferido, seja celebrando rituais públicos ou particulares, seja dando entrevistas na TV ou respondendo a um estranho sobre sua religião – tudo isso são formas possíveis de realização do caminho sacerdotal. Talvez você não deseje ser um@ curador@, ou talvez nunca sinta o impulso de ensinar ou falar sobre a Arte, mas se você descobrir o que a Deusa espera de você e realizá-lo, exercendo seus dons, você será um@ verdadeir@ Sacerdotisa ou Sacerdote Wiccanian@.

Um cuidado muito grande que se deve ter é com a ilusão de estar seguindo um caminho sacerdotal. Ouço muita gente dizer: “Eu vivo consciente da natureza, vejo a Deusa em tudo, e isso basta para me fazer wiccaniana.” Tolice: um caminho sacerdotal não é um fingimento, uma fantasia, tampouco é simples como “ver a Deusa em tudo”. Implica estudo, dedicação e vivência. Implica autoconhecimento e autotransformação.
Como vai seu Sacerdócio? Como você tem utilizado no mundo os Poderes Dela? Muito mais do que se preocupar com a forma da iniciação, esta deve ser a preocupação de todos nós wiccanianos: a qualidade do exercício do Sacerdócio.
Aos novatos deixo a pergunta: você tem real vocação sacerdotal? Como crê irá exercer o sacerdócio da Deusa e Seu Consorte em concreto na sua vida?

Somente Aquela Que Dá Poderes nos transforma em reais Sacerdotisas e Sacerdotes, fazendo com que nossa prática da Wicca deixe de ser algo formal e livresco, concretizando de maneira ativa os preceitos de nossa religião em nossas vidas, trazendo a magia a atuar no mundo.
Bençãos Brilhantes!

Mavesper Cy Ceridwen

Sou bruxa e sacerdotisa wiccaniana há mais de 22 anos, militante em defesa do Estado laico e direitos humanos. Terapeuta de cristais, taróloga, teáloga, terapeuta xamânica. Amo cães,especialmente poodles e pomeranians. Viciadíssima em seriados e , me aventurando na gastronomia.

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Iniciação Wicca – Como iniciar em uma Tradição

A Iniciação na Wicca é o caminho através do qual as pessoas são oficialmente aceitas como parte de uma Tradição. Isso quer dizer que o fato de um Bruxo praticar a Arte inspirado ou de acordo com uma determinada Tradição não o transforma em um praticante dela.

Para ser um membro oficial de uma Tradição, a pessoa deve passar por um processo de iniciação e ser formalmente iniciada por alguém já iniciado naquele caminho. Isso significa que Bruxos solitários ou auto iniciados não possuem Tradição alguma. Somente ingressando em um Coven é que será possível receber uma Iniciação Wicca Tradicional e se tornar membro de uma Tradição de Bruxaria.


Iniciação Wicca – Como funciona

A maioria das Tradições possuem graus diferentes de Iniciação, geralmente três, que marcam o estágio de estudo e aprendizado de cada membro. Para alcançar o 1º grau é necessário passar antes pelo ritual de Dedicação e estudar por um ano e um dia para entender os fundamentos e principais elementos da Wicca. O 1º, 2º e 3º grau exigem mais um período de aprendizado de no mínimo um ano e um dia cada.
Em geral, uma pessoa não alcançará o mais alto nível dentro da Wicca em menos de cinco anos de estudos ininterruptos, onde após a Dedicação será elevada através do 1º, 2º e 3º grau ao longo desse processo.

Cada Tradição possui uma linhagem, ou seja, uma árvore genealógica iniciática que em teoria pode ser usada para confirmar a veracidade da alegação de uma Iniciação dentro daquele sistema. Assim, é perfeitamente possível checar quando uma pessoa está falando a verdade ou mentira ao dizer que é iniciada em uma Tradição simplesmente conferindo sua linhagem.
Uma Iniciação Wicca levará a outra, que levará a outra, sendo possível traçar a árvore iniciática até o fundador da Tradição.

Todas as Tradições são unidas por um laço de juramento que impede seus iniciados de revelar os seus segredos e rituais para pessoas que não iniciaram nela. Às vezes tais votos incluem também a proibição de revelar a identidade dos membros da Tradição.

Cada Tradição possui um Livro das Sombras que é comum a todos os membros do grupo contendo seus rituais, histórias e práticas. Apesar de não ser uma regra geral, às vezes o Livro das Sombras pode ser parcialmente ou totalmente cifrado para que somente pessoas verdadeiramente iniciadas na Tradição possam interpretá-lo.

Se você se sentir atraído a uma Tradição, explore-a. Procure conhecer ao máximo o que puder sobre ela e então procure um Coven legítimo desta Tradição para ser iniciado.

1734, Alexandrina, Algard, Diânica, Georgina, Eclética, Feri, Gardneriana, Hereditária, Seax-Wica ou Wicca Saxônica. Conheça um pouco melhor algumas das principais Tradições da Arte na Wicca.

Coven Wicca

As Tradições da Arte – Tradições Wiccanianas

A Wicca é um caminho espiritual com diversos subgrupos que possuem uma estrutura, filosofia e práticas específicas. A estes subgrupos se dá o nome de Tradições. Poderíamos dizer que as Tradições caracterizam o tipo e o sistema de Wicca que se pratica.

O termo Tradição se aplica tanto a versão da Wicca que se pratica quanto ao grupo de Covens que praticam um determinado sistema de Bruxaria. Tais grupos são unidos por princípios, éticas, rituais, práticas mágicas e linhagem ancestral em comum.

Cada Tradição é formada por diversos Covens, que funcionam como uma extensão dela, um ramo autorizado a agir, atuar, ensinar e falar em nome da Tradição. Poderíamos comparar isso a um sistema de redes. Um Coven seria uma sucursal local de uma Tradição, da mesma forma que as agências de banco ou lojas de uma rede são uma filial de uma grande corporação.

As principais Tradições da Arte

1734

Tipicamente britânica, é baseado nas ideias do poeta Robert Cochrane, um autointitulado Bruxo hereditário que se tornou proeminente na mesma época que Gardner. 1734 é usado como um criptograma para o nome da Deusa honrada nesta Tradição.
Apesar de não ser considerada pelos seus membros uma Tradição necessariamente Wiccaniana, inegavelmente foi influenciada pela Wicca de Gardner.

Tradição Wicca ALEXANDRINA 

Uma Tradição popular que começou ao redor da Inglaterra em 1960 e foi fundada por Alex Sanders. A Tradição Alexandrina é muito semelhante à Gardneriana com algumas mudanças menores e emendas. Esta Tradição trabalha à maneira de Alex e Maxine Sanders. Alex Sanders dizia ter sido iniciado por sua avó em 1933 quando ainda era uma criança. A fraude dessa história posteriormente foi descoberta, mas mesmo assim a Tradição Alexandrina foi uma das mais importantes influências na construção da Wicca.
A maioria dos rituais desta Tradição são muito formais e baseados na Magia cerimonial. É também uma Tradição polarizada, onde a Sacerdotisa representa o princípio feminino e o Sacerdote o princípio masculino.
Como na Tradição Gardneriana, a Sacerdotisa é a autoridade máxima do Coven. Embora similar a Gardneriana, a Tradição Alexandrina tende a ser mais eclética e liberal. Algumas das regras estritas Gardnerianas, tais como a exigência da nudez ritual, são opcionais.

Tradição Wicca ALGARD

Uma americana iniciada nas Tradições Gardneriana e Alexandrina, chamada Mary Nesnick, fundou esse “novo” caminho de Wicca que reúne ensinamentos de ambas Tradições, Gardneriana e Alexandrina, sob uma única insígnia.

Tradição DIÂNICA

O termo “Diânico” se refere a qualquer ramo da Bruxaria que enfatiza o feminino na natureza, vida e espiritualidade acima do masculino e isto inclui muitas, se não a maioria, das Tradições de Wicca existentes na atualidade.
Algumas Bruxas Diânicas só enfocam seus cultos na Deusa, outras na Deusa e no Deus dando supremacia ao Sagrado Feminino, quer seja nos rituais ou filosofia da Tradição. A Arte Diânica possui dois ramos distintos:
  1. Um ramo, fundado no Texas por Morgan McFarland que dá supremacia à Deusa em sua Tealogia, mas honra o Deus Cornífero como seu Consorte Amado e abençoado. Os membros dos Covens dividem-se entre homens e mulheres. Este ramo é chamado às vezes “Old Dianic” (Velha Diânica) e há alguns Covens descendentes desta Tradição, especialmente no Texas. Outros Covens, similares na Tealogia, mas que não descendem diretamente da linha de McFarland, estão espalhados por todo EUA. Recentemente a Tradição mudou seu nome Old Dianic para McFarland Dianics.
  1. Outro ramo, chamado às vezes de Tradição Diânica Feminista, foi fundado por Zsuzanna Budapest e focaliza exclusivamente a Deusa e somente mulheres participam de seus Covens e grupos. Geralmente seus rituais são livres e não são hierárquicos, usando a criatividade e o consenso para a realização das cerimônias. 
São politicamente um grupo feminista e há uma presença lésbica forte no movimento, embora a maioria de Covens estejam abertos à mulheres de todas as orientações sexuais.

Tradição GEORGINA 

Esta Tradição foi criada por George Patterson, que se auto intitulou como sendo um “Alto Sacerdote Georgino”. Quando começou o seu próprio Coven, chamou-o de Georgino, já que seu prenome era George.
Se há uma palavra que melhor pode descrever a Tradição de George ela seria “eclética”. A Tradição Georgina traz um composto de rituais Celtas, Alexandrinos, Gardnerianos e Tradicionalistas. Mesmo que a maior parte do material fornecido aos estudantes seja Alexandrino, nunca houve um imperativo para seguir cegamente seu conteúdo.
Os boletins de notícias publicados pelo fundador da Tradição estavam sempre cheio de contribuições dos povos de muitas outras Tradições. Parece que a intenção de George Patterson era fornecer uma visão abrangente aos seus seguidores.

Tradição ECLÉTICA

Um Bruxo eclético é aquele que funde ideias de muitas Tradições ou fontes. Como no caldeirão de uma Bruxa onde são somados elementos para completar a poção que é preparada, assim também são acrescentadas várias informações de várias Tradições para criar um modo mágico eclético de trabalhar.
Esta “Tradição”, que na verdade não é uma Tradição, é flexível, mas as vezes carente de fundamento. Geralmente Bruxos Solitários e auto iniciados trabalham à maneira eclética criando rituais e Covens de estrutura livre.

Tradição Wicca FERI

Há várias facções da Tradição Feri fundada por Victor Anderson no Oregon na década de 20. Sua estrutura apesar de ser diferente da Wicca em alguns pontos, é semelhante de muitas maneiras e seguramente Victor Anderson se inspirou muito na Wicca para a construção de sua Tradição.
A Deusa Estrela está no centro da filosofia Feri e a Tradição é politeísta com diferentes Deuses reconhecidos e cultuados. O conceito dos Três Eus, que expressam os diferentes estágios de nossa consciência, é um dos fundamentos da Tradição Feri.
A maioria dos praticantes da Feri trabalham solitariamente ou em grupos muito pequenos e a Tradição não possui graus de Iniciação. No entanto, algumas linhas da Feri possuem um sistema de Bastões que expressam o estágio de aprendizado e crescimento dentro da Tradição: o bastão Branco é destinado a todos os iniciados, os Elders “Anciãos”             possuem o bastão verde e somente os Grandes Mestres possuem o bastão Negro. Alguns dos nomes mais famosos desta Tradição são Victor e Cora Anderson, Tom Delong (Gwydion Penderwyn), Gabriel Carrilo Starhawk, M. Macha Nightmare, T. Thorn Coyle e Storm Faerywolf.

Tradição GARDNERIANA

Fundada por Gerald Gardner nos anos de 1950 na Inglaterra, esta Tradição contribuiu muito para Arte ser o que é hoje. A estrutura de muitos rituais em numerosas Tradições é originária dos trabalhos de Gardner. Algumas das reivindicações históricas feitos pelo próprio Gardner e por algumas Bruxas Gardnerianas devem ainda ser verificadas (e em alguns casos são fortemente contestadas). Porém, esta Tradição deu suporte a muitas Bruxas modernas.
Gerald B. Gardner dizia ter sido iniciado em um Coven de Newforest, na Inglaterra em 1939. Em 1951 a última das leis inglesas contra a Bruxaria foi banida (primeiramente devido à pressão de Espiritualistas) e Gardner publicou o famoso livro “Witchcraft Today”, trazendo uma versão dos rituais e as tradições do Coven que supostamente o iniciou e isto deu nascimento à Wicca como ela é praticada na atualidade.
Esta Tradição é extremamente hierárquica. A Sacerdotisa e o Sacerdote governam o Coven, os princípios do amor e da confiança presidem os grupos e os praticantes desta Tradição trabalham “Vestidos de Céu” (nus). Nos EUA e Inglaterra os Gardnerianos são chamados de “Snobs of the Craft” (Esnobes da Arte), pois muitos deles acreditam que são os únicos descendentes diretos do Paganismo purista.
Cada Coven Gardneriano é autônomo e é dirigido por uma Sacerdotisa, com a ajuda do Sacerdote. Muitos livros escritos por Doreen Valiente têm base nesta Tradição.

HEREDITÁRIA

Os Bruxos Hereditários, ou Genéticos, são pessoas que supõem ter uma ascendência Pagã (mãe, tia, avó são os alvos mais visados). Muitas reivindicações de ancestralidade mágica são altamente questionáveis e na maioria das vezes foram constatadas como pura fraude e fantasia.

SEAX-WICA OU WICCA SAXÔNICA

Fundada em 1973 pelo prolífico autor Raymond Buckland que era, naquele momento, um Bruxo Gardneriano. A Seax Wicca é uma das Tradições precursoras dos Bruxos Solitários. Este aspecto fez dela um caminho popular entre os Bruxos.
Esta pequena lista de Tradições, obviamente, não é completa. Existem muitos outros caminhos de Wicca que aqui não foram mencionados e outras novas Tradições são criadas e fundadas diariamente.

Coven Wicca